quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Princesa - a flor que nasceu do lodo


Os mais novos “melhores amigos” se afinavam cada vez mais desfrutando um da companhia do outro, ora brincando literalmente na maior cachorrada, ora estirados à sombra querendo amenizar o calor que a cada dia se tornava mais causticante.

Carol e eu os visitávamos diariamente, levando comida de panela fresquinha e cheia de ossinhos. Era legal dar uma variada no cardápio... rsrsrs... além de dar uma ajudinha no processo de engorda de Cláudio pois ainda se encontrava bem magrinho em virtude dos dias que passou vagando pelas ruas, depois que fugiu da casa de seu adotante. Por sua vez, Princesa também se beneficiava desse momento gastronômico, apesar de já ter recuperado o seu peso muitíssimo bem, tendo a recente histerectomia ajudado bastante nesse sentido. Ainda assim, não seria justo privá-la desses banquetes diários uma vez que, a fome foi, sem dúvida, sua mais “fiel companheira” em todos os anos que viveu jogada nas ruas e, à despeito de um possível sobrepeso, deixávamos que se deliciasse com a comida fresquinha, também como uma forma de compensação emocional.

Nesse instante, abro um parênteses nessa narrativa, pra contar um pouco sobre Princesa. Sua história, como a de tantos outros, é muito triste. Estima-se já ter atingido a “meia-idade” e tem cerca de 7 anos. Foi avistada pela primeira vez por Carol, em estado lastimável, perto de uma via de grande movimento. Alguns dias depois, na ocasião de seu resgate, se não me falha a memória, lembro-me de Carol ter comentado que encontrou Princesa na mesma região em que foi vista pela primeira vez. Estava apática e paralisada, sem conseguir se movimentar, em virtude do alto grau de desnutrição. Não reagiu à aproximação de sua protetora, se mostrando muito dócil, colaborando com tudo, não resistindo à ação de resgate. Parece que sabia que seu “dia de sorte” finalmente tinha chegado. Estava com a pele muito judiada e praticamente sem pêlos. Seu olho direito muito inchado, com secreção e fechado. Faltavam-lhe alguns dentes e os poucos que restavam encontravam-se bastante estragados. Uma imagem deplorável, retrato vivo do descaso, vítima da indiferença e do abandono.

Saiu das ruas direto pro veterinário amigo e colaborador, onde foi constatado um quadro de fungo, tratável com medicação anti-fúngica oral, banhos periódicos com shampoo medicinal e ingestão de suplemento vitamínico para pele e pelagem. Seu olho seria tratado com aplicação diária de colírio específico. Em seguida, foi levada para a casa de veraneio localizada na praia, onde ficaria hospedada e seria cuidada por Carol. Princesa foi o primeiro focinho a chegar neste “lar temporário” e por isso passava a maior parte do dia e da noite, sozinha. Ficava deitada num cantinho, toda encolhidinha e sua solidão só era interrompida quando recebia a visita diária de sua protetora e cuidadora.

Carol foi incansável em relação aos cuidados com Princesa, reservando a única hora que tinha livre, seu horário de almoço, pra se dedicar ao tratamento de sua protegida. Em muito pouco tempo essa “senhorinha” começou a apresentar melhoras significativas, deixando a apatia pra trás e dando sinais patentes de estar recuperando a energia e a vivacidade. Graças também ao inesgotável amor, carinho e atenção que recebeu, não tardou a se tornar uma cadelinha saudável, peluda e feliz. Nossa! Era de causar surpresa a fantástica recuperação de seu pêlo, pois chegamos a duvidar que Princesa pudesse recuperar totalmente sua pelagem em virtude do péssimo estado em que se encontrava quando foi resgatada e também pelo tempo em que ficou exposta à ação dos fungos. Contrariando todas as expectativas, com cerca de 2 meses de tratamento, Princesinha apresentou uma linda e vasta cabeleira. Brilhante, sedosa e sem nenhuma falha. Seu olho também vinha se recuperando bem e já se mantinha aberto e sem secreção.

Seus dias de solidão acabaram e tudo ficou ainda melhor quando ganhou a companhia de Juan. Para relembrar esse encontro acesse: http://carrocinhadobem.blogspot.com/2008/08/e-cludio-mandou-juan.html. Passado um tempo, Juan se mudou e trouxemos Cláudio pra junto dela (http://carrocinhadobem.blogspot.com/2008/09/juan-de-casa-nova.html) e é a partir daí que vou continuar a minha narrativa sobre a história dessa linda amizade.

Na verdade, a nossa presença no “lar temporário” não se fazia necessária todos os dias, pois Princesa já havia terminado o seu tratamento e Cláudio não estava tomando nenhum medicamento. Bastava apenas que deixássemos à disposição, em local seguro e protegido de chuva e sol, bastante água fresca e ração, para podermos alternar os dias das nossas visitas, porém o nosso coração não queria outra coisa. Era tão prazeroso estar com eles, que não conseguíamos nos furtar de estar com eles um dia sequer. Confesso que ver a alegria com que nos recebiam, como vinham saltitantes em nossa direção e ganhar tantas lambidas sôfregas e saudosas se tornou uma necessidade muito mais nossa do que deles, um verdadeiro alimento pra nossa alma.

Pra mim, prova irrefutável de que essas criaturas são anjos enviados por Deus, com a missão de viver entre nós, para nos dar lições diárias de amor, lealdade e superação; despertando os corações endurecidos, nos resgatando da frivolidade e curando nossas almas tão sedentas de amor e de esperança.

Viva eles, nossos anjos de quatro patas!!!!!
Paz e luz, sempre!!!!

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PS.: Cliquem na foto para ampliá-la e ver em detalhes a transformação de Princesa.