quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

MEL – mais uma vítima da mediocridade humana


22.DEZ.2008

O meu relato:

Às vésperas de viajar para o Rio, ao longe, avistei uma criatura, ao lado do meu prédio, desorientada e extremamente faminta, vagando à procura de algo que pudesse diminuir a fome e a fraqueza que lhe devoravam a existência.

Eu estava indo à clínica veterinária para internar a minha cadela que não estava nada bem e parei em frente à ela para ter uma idéia concreta do seu estado. Sua aparência era de total penúria e ao vê-la, tive a impressão de estar diante de um típico quadro de leishmaniose: muito magra, alopecia ao redor dos olhos e unhas bem grandes. Além disso, apresentava um enorme inchaço em uma das mamas. Nesse instante, o porteiro do meu edifício veio me avisar que já haviam chamado o CCZ. Putz!!!! Fiquei mal "praca", pois sabia que com isso ela já tinha a sua sentença de morte decretada, pois não teria sequer uma chance de fazer um exame de sangue para confirmar ou não a provável doença e também pelo fato de saber que eu não poderia sequer levá-la comigo para uma avaliação com o veterinário pois eu já estava com a minha cadela adoentada no carro e não seria prudente expô-la à mais esse risco. Parti, deixando-a pra trás e claro, chorando muito, por pensar no quanto ela estava sofrendo e por quanto tempo mais sofreria... Eu precisava fazer alguma coisa... qualquer coisa que minimizasse o seu sofrimento ou pelo menos uma parte dele...

Liquei pra casa e pedi que minha empregada descesse com ração e água, que segundo ela, foram devoradas em alguns segundos. Pedi também que, antes de ela ir embora ao final do seu expediente, que voltasse lá e fizesse uma "reposição".

No início da noite, ao retornar, a cadelinha não estava mais lá. Corri os olhos pelas imediações mas não havia sinal dela. Pensei: que merda... já vieram buscá-la...

Fiquei amargurada e remoendo o fato de não ter podido fazer nada... Eu queria ter dado a ela a chance de um diagnóstico preciso mas a mediocridade daqueles que a abandonaram e a minha impossibilidade de ajudá-la no momento em que a encontrei, a condenaram irremediavelmente em "primeira instância".

A imagem daquela cadelinha esquálida e desorientada não me saíam da cabeça. Vez por outra eu ia até a janela pra ver se a avistava. Quem sabe ela não teria saído vagando por aí e já estaria de volta... sei lá... Liguei para Juliana, uma amiga protetora e muito experiente, em busca de elucidar algumas dúvidas em relação à leishmaniose.

Por volta da meia-noite, Juliana retornou o meu contato me esclarecendo que, mesmo que todos os indícios apontem para a leishmaniose, existe a possibilidade de não ser a mesma e sim um conjunto de patologias que levam à um falso quadro, sendo mesmo o exame de sangue a maneira mais segura de se chegar a algum diagnóstico.

Meu coração se encheu de esperança e pedi à Deus que ela não tivesse sido levada pelo CCZ e voltasse logo, que um anjo aparecesse e que houvesse tempo para se fazer alguma coisa por ela antes que o "esquadrão da morte" chegasse. De "tempos em tempos" eu ia até a janela pra ver se ela havia voltado. Por sugestão de Juliana, enviei por e-mail um apelo à APAAB, entidade que atua na proteção animal aqui em João Pessoa.

O dia já estava amanhecendo quando comecei a arrumar as malas e terminar os preparativos da viagem, visto que passei a véspera em função de minha cadelinha que adoeceu.

Pela manhã, ao sair em direção ao aeroporto, eu vi que ela havia voltado... Estava deitadinha naquele mesmo lugar em que eu a vi pela primeira vez... Só me restou pedir ao Pai Celestial com todo o meu coração, mais uma vez, que cuidasse dela enviando um anjo para tentar ajudá-la. E assim Ele o fez...

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